E quando eu morrer, como irei saber em que dia foi?



A minha tia Paula um dia disse esta frase, penso que de autor desconhecido ou de um conhecido dela. Tem um pouco de humor negro, não fôssemos todos nós não sabermos bem como vai acabar, desde o dia em que nascemos, é a nossa única certeza. Vejo datas de nascimento, morte de tanta gente, gente nova, gente velha, quando não diz, faço sempre as contas pare saber a idade com que morreu, quase sempre acho que eram novos demais para morrer, mesmo se tiverem 80 anos. Ultimamente, à medida que envelheço, sendo eu ainda nova, (sim 33 anos é ser nova "tsá"? para a malta aí com menos de 25 anos, chegam cá num instantinho) tenho conhecido mais gente a morrer, é normal, quando tinha 10 anos, so conhecia os meus amigos da escola e morava numa cidade pacata, "ninguém morria" a não ser os "velhinhos" (muitos ainda não eram velhinhos mas o que sabemos nós aos 10 anos?). 

Tenho pensado na data da morte, na idade de quem morre, no dia, nos dias/horas antes, tenho pensado que é injusto eu saber o dia em que varias pessoas morreram mas elas não, é impossível precisar o momento, o dia, o ano, fazemos tantos planos: 
- "quando fizer 30 anos, vou ter um filho"
- "quando acabar a falculdade vou dar a volta ao mundo"
- "quando tiver dinheiro vou comprar uma casa"
- "quando me reformar, ah, aí é que vai ser, vou descansar, e vou de férias com o meu amor, amigo, sei lá quem".
 E quem te disse que vais chegar lá? tanta gente nunca chega a ter 40 anos, 30, 25, 15, é injusto, eu sei. Eles não sabem que não vão lá chegar, que vão deixar aqui um rasto de saudade, raiva, corações partidos para sempre, estão(estamos) simplesmente a viver cada dia. Quando penso nisto, penso que deveria pensar mais vezes nisto, viver mais intencionalmente, fazer mais coisas, não apenas por fazer, sei lá eu se ironicamente não poderei estar aqui amanhã para o fazer. Penso no dia em que alguém morreu, e penso no dia que um dia eu irei morrer, sem saber, sem poder dizer um adeus ou até logo a minha familia, aos meus amigos, sem poder dizer:  "ah então se eu vou morrer deixa-me cá só ver mais um vez o por do sol no mar com o meu amor." ou então "ah se eu vou morrer deixa-me cá ir a casa da minha avó comer das rabanadas dela que eu gosto tanto." No momento a seguir os outros que ficam sabem que eu morri mas eu não, choram e pensam em mim, (ou não) e sabem o dia exato que foi, estará na minha lápide e eu... eu nunca saberei, sinto-me um pouco defraudada quando penso nisso. A minha curiosidade deixa-me a pensar em métodos para eu saber que dia foi, como se eu soubesse que iria conseguir ver em versão fantasma ou qualquer coisa do género. Eu sou aquela pessoa que esta a ver um filme e dizem-me: "ah este ator já morreu" e eu paro e vou ver quando e como, e claro, fico triste, apesar de eu "saber" que nunca o iria conhecer, sinto que antes haveria essa "possibilidade", agora já não.  

...

Como assim não vou saber essa informação sobre mim mesma?
Isto deixa-me inquieta. Como assim nem vou saber quem vai ficar triste por eu partir deste mundo, quando eu fico triste quando qualquer pessoa mesmo desconhecida parte. Quando eu vou lá e choro e essa pessoa nem sabe nem vai saber, quando escrevo uma carta ou um post a relembrar o aniversario da morte de alguém. Quando vejo declarações a pessoas históricas sobre a sua bravura, legado e inspiração. Mas elas não leram... 

Ah... penso demais (overthinker forever). Mas irei, literalmente, morrer, curiosa sobre o dia do meu fim, sem o saber. Trágico ou poético?














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