Porque nunca me senti (muito) portuguesa


Às vezes quando falam em ser português, quando vejo filmes em português, quando se fala na literatura portuguesa, no futebol português, na culinária portuguesa, na típica família portuguesa e tudo mais que envie este pais sinto que não sei do que falam... sinto que estou à parte. Na verdade nunca me senti muito portuguesa, e acho que sei alguns fatores que me podem ter ajudado a chegar a esta sentimento e passo a inumera-los:

- o meu nome: 
Chamo-me Eliana, e a vida toda sempre tive de corrigir os meus conterrâneos quanto a este assunto, como se lia, como de escrevia, vezes sem conta... às mesmas pessoas. 
- O nome do mau pai é a mesma história.
O meu pai chama-se Almiro, outro nome estranho, sentia uma certa segurança quando era criança em haver o sr Almiro da furtaria narra sésamo. Lá estava a prova de que sim, Almiro não era um nome assim tão estranho, afinal até aparecia na rua sésamo! mas o meu nome, esse coitado, nunca parecia em lado nenhum, até as fitas de cabelo e pulseiras populares nos anos 90 tinham de ser sempre mandadas fazer, perdi umas horas certamente se contar todos os minutos de vida que perdi a olhar para painéis cheios de pulseiras, montras com canecas, ou ímans de frigorífico com nomes,  na praia e nas feiras populares à procura do meu nome, sem sucesso algum. Lembro-me que um dia vi numa revista da Mônica uma publicidade a um boneco, chama-se "Teo" e dizia o seguinte: "Teo, o gato de Eliana", ter o meu nome na revista era como se tivesse sido validado, era real, o meu nome é verdadeiro, não sei explicar melhor esta sensação, mas foi o que senti. Mais tarde descobri que Eliana era uma apresentadora famosa no Brasil, e isso serviu de mote para explicar o meu nome a muita gente... "chamo-me Eliana, E-L-I-ana, como a apresentadora de TV do Brasil", sim tinha sempre de soletrar ou ouviria coisas como "Liliana?", (90% das vezes) ou "Helena?".. ou outras coisas estranhas, sem falar em todas as vezes que escreveram mal o meu nome. Muitas vezes desejei so ter um nome comum, bem Português que se confundisse no meio das Joanas, Marias e Catarinas que conhecia na escola e não tinham nenhum problema com o nome.

- O meu irmão loiro:
 O meu irmão era (e é) loiro, quando o meu irmão nasceu aa minha família passou a ser ainda mais fora do comum, o meu irmão era suuuper loiro, as pessoas na rua paravam por cause dele, chamam-no "o sozinho em casa" por ser loiro como ele e ter uma lábios carnudos e vermelhos como o protagonista do filme. 

- A minha pela branca, pálida:
Ao contrario de praticamente todas as minhas colegas e amigas eu nunca ficava morena mesmo indo um mês inteiro à praia, ficava um pouco dobradinha, mas nada comparado À pipoca mulher portuguesa que mesmo não sendo super morena, mal chega o tempo de calor se transforma numa bomba de melanina e em Junho já está mais castanha que uma meia de leite escura! e eu era sempre o pingo de leite. Olhos verdes e não castanhos como as minhas colegas quase todas e mesmo aquelas que tinham olhos claros no verão ficavam super morenas. A minha mãe ficou cedo com o cabelo branco e deixou de o pintar, é alta para a media de Portugal, 1,69, muito branca (a quem eu saí, e de olhos claros) e o meu pai não é o típico português, é alto e sempre foi magro, com um porte atlético, e o meu irmão, loiro, logo, sempre que vamos de ferias para Lisboa ou Algarve falavam connosco sempre em inglês: não parecíamos de cá, apreciamos de outro local qualquer.

- Crescer e viver sem futebol:
 Em minha casa nunca ninguém viu futebol, o meu pai nunca ligou a futebol, talvez por ter crescido em Moçambique, talvez por o meu avô ser muito rígido e pensar mais em trabalho ou talvez porque se tornou cristão evangélico, e nos anos 80 todo o tipo de "prazeres do mundo" eram mal vistos. O meu irmão durante a adolescência chegou a ligar um bocadito a futebol, mais por influencia dos amigos da escola, mas estava sempre a mudar de clube e ate chegou a dizer que ele era do que ganhasse, logo, nunca foi muito aficcionado ao mesmo. 

- Tal como futebol os meus pais nunca gostaram de musica pimba ou romântica, por isso em minha casa Agata era uma rocha(mineral? perdoa-me mãe) ainda por cima tendo a minha mãe estudado geologia, definitivamente Agata não era nada relacionada com música.

- Comida tradicional portuguesa é do melhor, exceto eu nunca ter comido cozido à portuguesa, ou tripas À moda do porto, ou sangue de porco, ou moela, orelha ser uma parte do corpo e miúdos serem apenas outra forma de chamar à crianças. A minha mãe cresceu com uma avo que matava galinhas na casa dela, por isso ela estava familiarizada com o cheiro de galinha depenadas entre outros ficou de tal modo traumatizada que nada de estranho entrava em casa, só comi bifes sem gordura a vida toda. 

- Não ser católica:
Cresci numa familia evangélica, embora não hajam muitas diferenças, sempre me senti à parte algumas alturas na escola, quando os meus colegas tinham de recitar os presentes que os padrinhos lhes tinham oferecido na Páscoa e eu senti a necessidade de inventar umas coisas para não ser a única que não tinha sequer padrinhos (é parvo, eu sei, mas não posso mudar o passado). O facto de a maioria dos portugueses ser católico e eu não, é menos uma característica forte da costura que eu nunca tive, catequese, 1ª comunhão, 2 comunhão, comunhão solene e avé maria, são coisas que ouvi na escola os meus colegas falarem e nada mais.

Apesar de tudo sempre quis ter esse sentimento que via nos outros, (bem sei que porque outro me parece muito seguro do que é ser português pode estar a ter o mesmo sentimento que eu mas mostrá-lo de outra forma. Sabem aquele que se mostra cheio de segurança mas por dentro treme que nem varas verdes de insegurança? Sim esse mesmo.)
Não sei se já disse todas as razões, mas o que nós vivemos molda-nos cria-nos uma "atmosfera" que nos dá sensações e eu sempre tive uma sensação de afastamento quando as pessoas se referiam ao "ser português com um orgulho tal como se ser outra coisa qualquer fosse o pior dos horrores, não sei se foi por nunca me sentir aquela portuguesa de gema ou se foi por outra coisa qualquer que nunca senti rivalidade alguma com nenhum pais, com nenhum idioma ou nacionalidade. Sempre me senti como aquela pessoa que queria ser algo que no fundo não sentia que era aquilo..

Estas são apenas algumas coisas sobre mim, ha muitas outras e muitas outras que me fazer ser portuguesa e sentir que faço parte, e que nunca quererei emigrar e este bocadinho de terra é o melhor sito onde poderia querer morar, e que cada pessoa portuguesa que encontro no estrangeiro me faz sentir mais perto de casa, me faz sentir mais em segurança, falamos a mesma língua materna e isso une-nos tanto, mas tanto. Ser Portuguesa, é ter orgulho e alegria em morar  aqui. 

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