Deficiente ou "normal"?


Antes de começar irei apenas dizer que vou chamar pessoas "normais" a pessoas que são consideradas pela sociedade como sendo saudáveis e segundo a norma, seja lá o que for considerado "norma" e não por outro tipo de preconceito ou outra coisa qualquer.


Como humanos somos peritos em atribuir rótulos/nomes, como se já não bastasse termos o nosso nome próprio, muitas vezes ao não lembrar o nome de alguém, adoramos chamar outros nomes, muitas vezes referimo-nos a características físicas dessa pessoa, não é verdade? 
"Aquela baixinha", "Aquele muito, alto", "aquela muito gorda", "aquele deficiente". Acho que já todos nos relacionamos com isto. Mas por via de duvidas e por ter alguma dificuldade em dizer se alguém é deficiente, ou não, pois dizer isso de alguém é uma matéria sensível e ninguém gosta de ferir susceptibilidades não é verdade? E comecei a pensar_ deficiências física, deficiências mentais, deficiências desde nascença, deficiências derivadas de acidentes, doenças raras.. síndromes, será que isto tudo é chamado de "deficiência"? ou alguns serão doença? Se não ha cura ou tratamento é apenas uma condição é uma doença? 

E perdi-me por ai, então resolvi começar por ir ao dicionário ver o que este diz sobre esta palavra, e segundo o dicionário de lingua portuguesa da Porto Editora, deficiência significa isto:

deficiência

de.fi.ci.ên.ci.a
dəfəˈsjẽnsjɐdəfiˈsjẽnsjɐ
nome feminino
1.
perda de algofaltalacuna
2.
imperfeição
3.
insuficiência ou ausência de funcionamento de um órgão
Do latim deficientĭa-, «enfraquecimento»



Com a idade vamos aprendendo, e felizmente a aprendizagem leva-nos ou deveria levar-nos a abrir horizontes. E eu não sou diferente, sempre pensei muito sobre as coisas, a lógica das coisas, de onde vem, porque pensamos como pensamos (sim fui uma criança extremamente chata, sempre a perguntar tudo!) e muitas vezes por ignorância pensamos coisas parvas, confesso que durante muito tempo pensava que ter paralisia cerebral era algo que afetava mentalmente e por isso pensava que eram pessoas com um atraso mental (acho que devido ao nome, por associar a "cérebro paralisado") com o tempo fui educada e aprendi que muitas vezes é exatamente o oposto, na maioria dos casos apenas afeta a parte motora e não a mental. 



Sou das artes e não da ciência por isso não vos vou explicar nada sobre a deficiencias mas  talvez mais como lidar emocionalmente com elas. Comecei recentemente a pensar com muito carinho e amor nas pessoas com "diferenças" (deficiências, doenças, síndromes, whatever, ou outras particularidades diferentes do que se costuma chamar "a norma",) Não com pena, nunca, elas não merecem a nossa pena, apenas amor. 



Dei por mim a pensar muito que os ditos normais tem muitos problemas em lidar com as pessoas diferentes delas (algumas vezes eu também), ficamos com suores, desconfortáveis, não saber para onde olhar, não saber o que dizer, por ignorância achamos que as suas diferenças lhes causam limitação e tristeza e muitas vezes temos pena e pensamos que não saberíamos o que fariam se estivéssemos na sua posição e por isso ficamos altamente desconfortáveis e esse desconforto leva-nos a não querer estar na presença de uma pessoa que lhes causa tanta tensão (medo do diferente, do desconhecido).



Comecei a reparar que muitas vezes as pessoas normais são bastante limitadas e tem muitos medos e começam a olhar para quem é considerado mais limitado do que elas  e dizem logo que não vão conseguir, nem os deixando tentar. A limitação estava nos que aparentemente eram normais e não nos outros, fazendo com que muitos nunca experimentassem o seu potencial máximo, os ditos normais nunca tiveram de se esforçar muito, conhecem os seus limites e como tal situam todos ao seu redor pela sua métrica. 

Tenho visto coisas incríveis pelo trabalho de pessoas com deficiência, que segundo o dicionário são insuficientes, mas o que tenho visto, são pessoas altamente competentes, mais do que suficientes, brilhantes. Às vezes basta dar um pouco de espaço e confiança e dizer: "tu consegues", em vezes de cortar as asas brutalmente como ao longo dos anos se tem feito. 

Hoje li uma frase que me marcou profundamente, disseram à mãe de um menino com trissomia 21, quando ele nasceu, para o institucionalizar, pois iria atrapalhar a familia dela. Ela fez o oposto, e este rapaz tinha dois irmãos mais velhos que o tratavam simplesmente como o irmão dele e nunca como o "deficiente". Fizeram com que ele sempre fosse mais além, ele queria sempre acompanhar os mais velhos em todas as brincadeiras, fazer tudo o que eles fizessem, fosse trepar uma arvore, ou uma coisa de extrema dificuldade. Ele ia e fazia, como qualquer criança. Isso fez dele um homem incrível, sem limitações. Hoje é um orador motivacional, faz outros pais acreditarem que os seus filhos para além de não serem entraves, não são limitados, nem vão estragar a sua familia, (aliás acho que a vão melhorar, faze-la mais inclusiva, faze-los crescer e ter maior capacidade de adaptação à diferença.) 

Essa perspetiva distorcida que deram à mãe desse rapaz é terrivelmente egoista, e é natural que assim seja. Vivemos numa sociedade que só olha para o seu umbigo, que é competitiva até pelas coisas mais ridículas. Fazem-nos acreditar que sim, uma pessoa com deficiência nos vai atrasar na vida, não vamos ter o filho super bem sucedido... e o que é ser bem sucedido? é ser um empresário cheio de dinheiro? é casar e ter filhos? o sucesso não se mede assim, felizmente, e vejo tantas pessoas miseráveis com tudo o que a sociedade nos diz que é necessário para se ser bem sucedido. 

Ter um filho/familiar com deficiência é mais difícil do que ter um filho normal requer mais atenção, mais tempo para vestir talvez, mas queremos um filho para amar, educa-lo a er uma pessoa com caracter e que inclua todas as pessoas ou para ser um trofeu? queremos "perder" tempo com um filho ou te-lo para lá por casa e tirarmos uma foto perfeita de natal para enviar a todos os nossos conhecidos no facebook e durante o resto do ano nem tiramos 5 minutos para saber como vai na escola? 

Ja reparei também praticamente as pessoas que se preocupam, e que falam sobre este tema ou são os próprios "lesados" ou os pais deles. Que sociedade egoista que so olha para o seu umbigo, que não repara nos passeios cheios e arvores ou com 30 cm de largura onde é impossível andar uma cadeira de rodas. Que sociedade egoista que faz prédios como o meu, onde ha um elevador mas pa la se chegar temos de subir e descer degraus... (suspiro) 


Uma pessoa com deficiência pode ter de se esforçar mais por coisas que as pessoas normais tem como garantido, por isso as pessoas com deficiência estão mais a alerta do que são ou não capazes de fazer do que as outras, por isso as pessoas com deficiência amam mais. Por isso penso que as pessoas com deficiência são tão necessárias na nossa sociedade, para podermos acompanha-las, parar as amar. Sinto que uma sociedade sem pessoas com deficiência, (como é o caso da Islândia, já que mal é detetado uma deficiência seja ela qual for é logo marcado um aborto!) é uma sociedade sem amor, sem coração, sem valores. 

Coloquem-se na posição de uma pessoa com deficiência que vejam na rua, ou que conheçam, pensem em como olham para ela, como falam com ela, como pensam sobre ela e pensam se gostaria de ser olhados assim, limitados e "encaixotados" em todos os preconceitos que a sociedade gosta de carregar a palavra deficiente... Ah e como diz a Mafalda Ribeiro, o dia mundial da deficiência ou da pessoa portadora de deficiência, é dia 3 de dezembro, mas estas pessoas existem o ano inteiro, e quem sabe se o proximo que conheceres não é alguém bem proximo de ti. 

Sugiro que vejam videos da magnifica Mafalda Ribeiro, uma jornalista, autora, oradora, entre tantas outras coisas,(vão ama-la <3) e vejam o canal de youtube "Special books for special kids", onde um rapaz chamado Chris resolveu entrevistar as pessoas mais diferentes pelo mundo fora.

Eduquem-se é tão bom e vejam como as crianças são felizes até o dia em que aluguem é preconceituoso e não quer brincar com ela ou começa a chamar-lhe nomes por causa da sua aparência ou da forma como falam... é triste porque quem ensina o preconceito são os adultos. Nós. e comecem a olhar para além da diferença que as pessoas tem, vão começar deixar de notar essas diferenças e começar a ver as pessoas como elas são.. apenas pessoas.

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